Oie, pessoal! Tudo bem?
Quem acompanha o Festival de Cannes já sabe que o Brasil é praticamente figurinha carimbada por lá praticamente todos os anos. Só que 2025 é, sem dúvidas, especial, pois somos país de honra no Marché du Film — resumidamente, essa é a maior chance de networking audiovisual que poderíamos receber, visto o tamanho do festival francês.
E o Brasil chegou com tudo em Cannes 2025 também na Competição Principal. No ano passado, tivemos Karim Aïnouz com Motel Destino, e este ano temos Kleber Mendonça Filho com seu O Agente Secreto, mostrando que nosso cinema continua afiado e relevante para os olhos lá de fora. Estrelado por Wagner Moura e Maria Fernanda Cândido, trata-se de um thriller político ambientado na ditadura de 1977. Alguns críticos já dizem que este é o filme mais maduro de Kleber e que uma Palma de Ouro não é lá algo impossível. Nem preciso dizer o quanto estou ansiosa pra assistir, né?
Tudo isso pra dizer que sim: nosso Brasilzão segue produzindo filmes bons o suficiente para garantir burburinho lá fora. Essa onda não vai passar nunca se continuarmos assim. E vale lembrar que, na última Berlinale, O Último Azul, de Gabriel Mascaro, venceu o Grande Prêmio do Júri. Ou seja: temos mais para o que olhar além do novo KMF.
Do lado de cá, quero indicar um filme brasileiro que eu pude assistir na última Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e que já está em cartaz nos cinemas: Manas, de Marianna Brennand.
No Pará, uma criança grávida dança uma música em homenagem a Jesus. O pai se aproxima da filha de 13 anos e faz com que ela durma com ele na própria cama. A mãe dorme na rede, enquanto os irmãos observam a mudança na dinâmica da casa. Todos esses recortes vão compondo o filme de forma sutil e, ao mesmo tempo, extremamente incômoda.
Afinal, a pequena comunidade da Ilha do Marajó (local onde Manas se passa) sabe o que as meninas de 12 e 13 anos fazem quando vão até balsas cheias de homens mais velhos. Mas ninguém fala nada. E é assim que Marianna Brennand preenche seu primeiro filme de ficção: com verdades assustadoras que ficam no ar e dores sofridas em silêncio.
A ótima direção de Marianna e a presença magnética de Jamilli Correa como a protagonista Marcielle são os dois elementos que tornam Manas tão potente. O belo trabalho de ambientação nos coloca diretamente ali, naquela ilha e na vida daquelas meninas que não sabem explicar o abuso pelo qual estão passando. Elas normalizam a violência velada porque suas próprias mães e professoras aprenderam a fazer a mesma coisa desde cedo — para elas, isso acontece e a vida tem que seguir.
Com atuações poderosas de Jamilli Correa, Dira Paes e Rômulo Braga, Manas é um retrato sensível e necessário de realidades muitas vezes invisíveis.
(!) Assistam antes que os cinemas tirem o longa de cartaz (!)
E, pra fechar a news de hoje, quero indicar o curta-metragem Cores de Maria, estrelado por Kely Nascimento (que também assina a produção) e dirigido por Pedro Henrique Moutinho.
A história gira em torno da Maria, fisioterapeuta que se apaixona por um paciente com Distrofia Muscular de Duchenne — doença rara, cruel e quase sempre invisível pra maioria das pessoas. Mas o filme vai além da história de amor e entra num território bem mais complexo: os dilemas éticos, os limites do cuidado, e a urgência de se falar sobre saúde com mais humanidade (e menos burocracia).
Kely não tá só atuando — ela vive essa causa há 15 anos à frente do Instituto Renascimento, que foi criado ao lado do ator Northon Nascimento, seu marido. Ele infelizmente faleceu em 2007, mas, desde então, Kely vem usando teatro, cinema e oficinas pra levar temas como doação de órgãos, doenças raras e saúde mental pra onde a conversa geralmente não chega. E se você pensa que é “só isso”, segura essa: no ano passado, a Kely doou um rim em vida pra uma pessoa que nem conhecia.
Cores de Maria já está disponível no YouTube e você pode conferir aqui.
Até a próxima!