A dica da semana é um grande lançamento que já está em cartaz: Pecadores, dirigido por Ryan Coogler (de Pantera Negra e Creed: Nascido Para Lutar). Assisti ao filme em IMAX — na sala do JK Iguatemi, uma das melhores de São Paulo! — e foi uma experiência impressionante de imagem e som.
Por que eu destaco isso? Porque o longa foi rodado com câmeras IMAX em 70mm. Simples assim.
Mas, para além de toda a impressionante parte técnica, que não deixa nada a desejar, Pecadores também é uma experimentação interessantíssima de dois gêneros distintos: este é um drama de época e também um terror vampiresco.
O drama engloba diferentes núcleos de personagens e a temática racial em um Estados Unidos dividido pela segregação no país, em 1932. No papel principal — ou melhor, papéis —, Michael B. Jordan interpreta Fumaça e Fuligem, irmãos gêmeos que retornam à sua cidade natal para abrir um bar de blues. A volta triunfal dos irmãos gera burburinho: eles prometem abrir a casa de música logo ao entardecer e reúnem amigos, amores e parceiros para que tudo saia conforme o planejado.
Um desses parceiros é o jovem Sammie (Miles Caton), primo dos gêmeos, talentoso músico e dono de uma voz única. Seu pai, o pastor da cidade, condena seu flerte com os pecados da vida noturna, mas Sammie não se importa muito: ele quer viver aquela noite como se fosse a última. Passando pelos campos de algodão e observando os escravos ao redor, o menino e seus primos anseiam por uma experiência inesquecível, capaz de distanciar todos da triste realidade que os cerca. Essa urgência é um dos elementos mais marcantes de Pecadores.
No âmbito feminino, há ainda Mary (Hailee Steinfeld) e Annie (Wunmi Mosaku), interesses amorosos de Fumaça e Fuligem. Felizmente, elas transcendem a barreira dessa definição que, por vezes, pode ser tão preguiçosa.
Enquanto diretor e roteirista, Coogler apresenta todos esses personagens com calma e os introduz àquele cenário de preparação para a noite de blues com extrema fluidez. O cineasta cria uma atmosfera intrigante e mantém a tensão no ar. Algo está prestes a acontecer. Mas o quê exatamente?
Entre o álcool, a música, a efervescência daqueles corpos que querem viver uma noite especial e a animação dos organizadores ao observarem tudo isso acontecendo ao mesmo tempo… é aí que entra o clima de perigo iminente. Inclusive, impossível não lembrar de Um Drink no Inferno, de Robert Rodriguez, quando Pecadores adentra essa névoa misteriosa.
A música é o principal motor do longa. Ela é a responsável pela melhor cena dele — um plano sequência arrebatador; tente mesmo assistir nos cinemas — e é também o que chama a atenção dos vilões noturnos. Sammie e seu blues são como uma antena. Seu poder tem um preço e, se durante o dia a população negra ainda segue como alvo da elite branca, a noite também traz suas pegadinhas. Essa falsa liberdade que acomete os clientes do bar dá as caras partir do momento em que todos saem daquele ambiente seguro e acolhedor.
A partir do momento em que Pecadores coloca o terror em primeiro plano, é quando Coogler e seu grande elenco mais parecem se divertir. Mas não é como se o filme deixasse de se levar a sério — na verdade, as camadas apresentadas inicialmente ficam ainda mais reluzentes quando postas ao lado de tanto sangue e crueza. É muito interessante ver essa mistura inesperada de gêneros, como se uma história se alternasse à outra para, no fim, tornarem-se uma só.
Pecadores é mais um belo filme de Ryan Coogler que dá voz a um capítulo da música negra norte-americana com classe e um toque de estranheza. Mais do que um filme sobre vampiros, este é um filme sobre identidade. Entender quem se é. Sem dúvidas, um dos lançamentos mais originais que assisti nos últimos meses. Merece a sua atenção!
Até a próxima 🤍