“The job makes you stressed, and panicked, and miserable. But when it all comes together and you make a good movie, it's good forever.” — Patty Leigh, personagem interpretada por Catherine O’Hara em O Estúdio
Eu já escrevi sobre O Estúdio — série do AppleTV+ criada por Seth Rogen, Evan Goldberg, Peter Huyck, Alex Gregory e Frida Perez — há algumas semanas. Alguns de vocês me disseram que começaram a assistir logo depois de ler a newsletter. Que bom! E, agora que a 1º temporada foi encerrada e já temos a 2ª garantida, sinto que preciso dedicar um post especial para essa produção.
Pra começar, deixa eu falar uma coisa: sou fã de carteirinha de Martin Scorsese e sinto que boa parte da minha cinefilia foi moldada a partir de seus filmes. Na adolescência, separei minha watchlist de filmes essenciais por diretores. Scorsese foi um dos primeiros. E foi amor à primeira vista. Por isso, quando dei o play em O Estúdio e logo de cara me deparei com a marcante (e sagaz) participação do próprio cineasta no primeiro episódio, pensei: “não tem como a série melhorar depois disso”.
Felizmente, eu fui surpreendida a cada semana. E isso continuou acontecendo até o último episódio, lançado na última quarta-feira.
A surpresa, é claro, vem muito pelo fato de que essa é uma série norte-americana criada por pessoas que conhecem Hollywood. Pessoas que não têm medo de apontar os excessos e os dilemas que permeiam cada vez mais tal espaço. Seth Rogen, uma mente realmente brilhante, atua e dirige nesse grande navio de sátiras, ironias, homenagens e, por que não?, críticas ao próprio ofício. Se até uma figura como Rogen está disposta a botar a cara a tapa numa produção tão pulsante e honesta, que ainda conta com a participação de tantos artistas renomados, é porque a reflexão sobre os rumos da indústria cinematográfica também preenche esse nicho.
É claro que é importante mencionar que tudo isso vem acompanhado de muito talento e incontáveis planos-sequência — esse último elemento é o grande chamariz de O Estúdio e deve fincá-lo no hall de grandes séries de 2025. O início da temporada foca bastante no impacto de cenas longas e diálogos impressionantemente bem trabalhados. Mas, com o passar dos episódios, a trama se apoia essencialmente no dia a dia de personagens como Matt Remick (Rogen), chefe do estúdio Continental, Sal Saperstein (Ike Barinholtz), executivo e braço-direito de Matt, Quinn Hackett (Chase Sui Wonders), executiva júnior do estúdio, e Maya (Kathryn Hahn), a chefe de marketing. Patty Leigh (Catherine O'Hara), ex-chefe do estúdio e mentora de Matt, completa o time. Todos ali amam filmes, mas não como Matt, que extrapola os limites dessa paixão em diferentes ocasiões.
Sem dúvida alguma, um dos pontos altos da temporada foi o episódio do Globo de Ouro (aqui, a votante da premiação que habita em mim vibrou muito, confesso!). Nele, Matt tenta desesperadamente ser mencionado no discurso de agradecimento de uma diretora premiada. No caso, a diretora é ninguém menos que Zoë Kravitz. A sátira é afiada — a provocação sobre o peso de ter seu nome citado mundialmente também — e o episódio conta com participações especiais, como Adam Scott e Ted Sarandos. A recriação do evento de Hollywood foi tão fiel que merecia um prêmio por si só.
Falando em prêmio, já dou praticamente como certa a vitória de Bryan Cranston (o eterno Walter White de Breaking Bad) em alguma premiação na próxima temporada de cerimônias, como o Emmy ou o próprio Globo de Ouro. Ele vive Griffin Mill, o CEO da Continental, e simplesmente está fora de si nos últimos episódios. Só vendo pra entender.
O Estúdio pode até realçar a vida real dentro daquela fantasia aparentemente impecável que tanto nos chama a atenção. E, às vezes, a vida real é mesmo frustrante. Mas, em essência, essa ainda é uma série sobre um apaixonado pela Sétima Arte tentando equilibrar sua visão artística com as demandas comerciais de um grande estúdio. O roteiro aborda de forma inteligente os dilemas da indústria atual: a tensão entre filmes comerciais e obras consideradas “de arte”, a pressão por resultados rápidos e as discussões sobre o que mantém o cinema vivo hoje em dia.
Mesmo com todos os percalços, essa jornada me lembrou por que eu amo tanto o cinema. No fim do dia, eu te entendo, Matt Remick. E estou ansiosa por mais episódios desde já.
Ler você é como ouvir alguém que ama cinema com o mesmo tanto de obsessão, paixão e frustração que eu também carrego. O Estúdio é esse lembrete agridoce de que, apesar de tudo — do caos, dos egos, das planilhas —, fazer cinema (ou falar sobre ele) ainda é, no fim, sobre amor. Mal posso esperar pela próxima temporada — da série e da sua newsletter.