O Brutalista: grandioso e memorável
Com 10 indicações ao Oscar 2025, esse é o meu filme favorito da temporada
A newsletter da semana vai ser um pouquinho diferente. Quero falar sobre apenas um filme — mas não é qualquer filme, não, tá? É simplesmente o meu favorito da temporada de premiações em 2025. É ele: o impressionante e perturbador O Brutalista.
O assisti pela primeira vez em outubro do ano passado, durante a Mostra SP, no CineSesc (a sala que mais combina com um filme de 3h35). Desde então, a história não saiu da minha cabeça. As atuações, a forma como ela conecta drama—arquitetura—História de um jeito tão marcante, os enquadramentos e a direção. A trilha-sonora. O caos na mente de um imigrante no pós-guerra.
Fui até rever há uns dias na cabine de imprensa e só reforcei o que já me era claro: esse é um filme que, ganhando o Oscar ou não (foi indicado a 10 estatuetas), vai continuar reverberando por sua grandeza estética e narrativa. A duração acaba sendo o que menos impressiona quando chegamos aos minutos finais.
Dirigido por Brady Corbet e roteirizado pelo mesmo ao lado de Mona Fastvold, O Brutalista está em cartaz nos cinemas.
Logo nas primeiras cenas, a Estátua da Liberdade aparece de ponta-cabeça. A imagem já traz um indicativo de que o “sonho americano” não será como o esperado na jornada do húngaro László Tóth (Adrien Brody — difícil encontrar adjetivos pra definir essa atuação). Mas essa jornada nos Estados Unidos, apesar de cheia de incongruências na vida pessoal do protagonista, é contada no formato de um grande épico. A divisão em duas partes, o intervalo e o epílogo deixam isso claro.
Existe uma elegância muito particular nesse filme, mesmo se tratando de um cenário em que a fome e a falta de perspectiva dão um toque realista às cenas. Só que, ao mesmo tempo, a narrativa épica traz detalhes que seguem a cartilha do brutalismo, movimento artístico criado na Europa: são detalhes crus, que mostram a verdade por trás das coisas e também das aparentes boas intenções de quem passa a rodear László em seu recomeço.
Assim como na arte, O Brutalista não precisa de muitos ornamentos para preencher a narrativa com artifícios ou elementos em excesso. Absolutamente todos os aspectos do filme têm qualidade altíssima, mas nada ali tem o intuito de entregar mais reflexões ou impacto que o necessário. É tudo muito direto ao ponto — desde as questões que o protagonista enfrenta pessoal e profissionalmente até a história em si.
Essa é a história de um sobrevivente do Holocausto na América pós-guerra que pensa que está livre, mas não está. Esse, por sinal, é o maior erro do personagem, mas é difícil julgá-lo quando refletimos sobre o contexto no qual ele está inserido. László viu os horrores da Segunda Guerra e nós apenas os imaginamos. Ele, por sua vez, abraça cada pessoa e cada oportunidade com uma força tremenda, visando o futuro. Brody dá tudo de si em um personagem machucado na alma e no olhar, mas que sabe que o passado não deve ser esquecido. Ele observa muito e fala pouco, mas imprime sua marca através da arte. O brutalista é o inimigo de quem desdenha dos horrores do outro lado do oceano.
É claro que, dentro da palavra “épico”, já existe a intenção de entregar algo diferenciado. É um dos filmes mais indicados ao Oscar 2025, mas também é uma obra que vai além do que as premiações podem proporcionar. É no peso das atuações de todo seu elenco, no impacto da trilha-sonora e no roteiro extremamente bem escrito por Corbet e Fastvold que O Brutalista ganha um brilho próprio, que eu particularmente não encontro tanto no cinema atual.
Pra quem quiser saber mais detalhes sobre a produção, assista aqui a minha participação junto com o Diego Olivares no podcast do Papo de Cinema.
Recomendo demais a ida ao cinema! Bom fim de semana!