Acaba de entrar em cartaz nos cinemas o longa O Quarto ao Lado. Com Julianne Moore e Tilda Swinton, este é o primeiro filme dirigido pelo espanhol Pedro Almodóvar falado em língua inglesa.
Compartilho com vocês a minha opinião sobre esse delicado filme — conferi no Festival do Rio.
Ao longo de sua vasta carreira, é mais do que evidente que o cineasta dirige seus atores como ninguém. Em O Quarto ao Lado, esse talento está em primeiro plano graças à presença de duas grandes atrizes: Tilda Swinton e Julianne Moore. Almodóvar aproveita cada minuto de tela das personagens Martha (Swinton) e Ingrid (Moore) para trabalhar delicadamente as nuances de cada uma — e tudo isso dentro de um contexto que se resume a só uma coisa: a morte.
Se comparado ao grandioso Dor e Glória (2019), um dos meus filmes favoritos do diretor, O Quarto ao Lado parece muito “menor” no sentido de como ele utiliza seus espaços, ou até mesmo na evolução de uma narrativa que permeia diversas décadas. Aqui o foco não é no que está no passado, mas sim em tudo que o presente representa (pelo bem e pelo mal). E quando eu digo “menor”, não é que o filme pareça inferior aos seus antecessores. Ele só é mais intimista, no melhor dos sentidos.
O roteiro, sempre um reflexo de como Almodóvar mergulha em seus personagens e demonstra compreendê-los tão bem, traz como foco os diálogos entre as protagonistas e é a maior ferramenta para conhecermos o passado de cada uma delas. Tanto é que o maior acontecimento do filme não é necessariamente a melhor cena: é um acontecimento assim como qualquer outro, sempre filmado com a mesma naturalidade. Cenas essas que sempre têm uma cor ou mais cores específicas em destaque (outra marca registrada do diretor).
Lendo assim, pode até parecer que O Quarto ao Lado não tenha uma forte carga de emoção, mas isso acontece justamente porque suas personagens estão retraídas em um mundo que é só delas e ninguém mais vai entender tão bem. É um mundo bonito — e também doloroso — que assusta uma e fascina a outra. É a vida com as cores de Almodóvar. E do lado de cá, cabe a nós apenas observarmos (e admirarmos) com certa distância.